45 ANOS DE DESIGN: DIREÇÃO ESTRATÉGICA E VISÃO CRIATIVA
45 ANOS DE DESIGN: DIREÇÃO ESTRATÉGICA E VISÃO CRIATIVA
Descrição completa do episódio
Sonhadores e fazedores, bem-vindos ao PODBRAND.
Sou Maurício Medeiros, consultor em Design Estratégico e autor do livro Árvore da Marca, onde eu detalho passo a passo o meu método que simplifica a implementação do processo de branding.
Hoje, temos a alegria de receber Giovanni Vannucchi, um dos maiores nomes do design brasileiro e internacional.
Ele é arquiteto e designer formado pela Universidade de São Paulo.
Giovanni é uma das lendas do segmento no país e acumula 45 anos de uma carreira que transformou o cenário do design no Brasil.
Ele foi o fundador e sócio por quatro décadas da OZ Estratégia+Design e recentemente fundou a Vannucchi Brand Design.
Desempenhou um papel central no fortalecimento do design nacional como cofundador e diretor de associações como a ADG Brasil, a ABEDESIGN, Associação Brasileira de Empresas de Design e a ABRE, Associação Brasileira de Embalagem.
Sua expertise o levou a ser jurado em prêmios internacionais de prestígio como o Cannes Lions na França e a representar o Brasil na Bienal Ibero-americana de Design.
Recentemente foi o diretor-geral do Brazil Design Award 2024, maior premiação de projetos de design do Brasil promovido pela ABEDESIGN.
Giovanni seja bem-vindo!
Muito obrigado Maurício, feliz em participar do Podbrand, eu tenho seguido aí, é um conteúdo muito rico, espero que minha experiência aí de 45 anos possa acrescentar um pouco a esse tão rico conteúdo.
Excelente, certamente, tenho a certeza que a tua vasta experiência e legado para o design brasileiro vai ajudar muito a nossa audiência a alcançar a sua melhor versão.
Muito obrigado pela aceitação do convite Giovanni, é uma alegria te ter.
Quando falamos sobre o design, fica evidente que ele é muito mais do que apenas estética.
É uma força estratégica que pode transformar negócios, moldar a percepção de marca e criar experiências de valor significativas.
Ao longo da sua trajetória, você acompanhou a evolução do design em diferentes contextos e a sua integração com outras áreas dos negócios.
Eu quero aproveitar esse momento para explorar o impacto do design como um motor estratégico, sua evolução ao longo dos anos e como as tendências mais recentes, como as que emergeram no BDA 2024, podem inspirar as empresas e profissionais a adotar o design como uma ferramenta multidisciplinar.
Então eu começo te perguntando, como o design pode ser integrado às estratégias empresariais para criar valor, além do produto ou serviço, impactando diretamente a experiência do cliente e a percepção da marca?
Legal, Maurício.
Eu acho que pode ser didático a gente retomar o que o Danish Design Center desenvolveu, o que eles chamaram da escada do design.
E aí eles definiram quatro estágios nos quais a empresa estaria posicionada.
O primeiro é não ter design nenhum, e aí eu não sei quantas empresas vão resistir a médio e talvez até a curto prazo.
O segundo é o design como estilo, só como a linguagem.
A gente pode pegar o exemplo de um produto onde você faz só o estilo dele, ou numa embalagem onde você só muda a parte gráfica, só muda o design gráfico, sem ter mudanças mais estruturais.
O terceiro estágio é o terceiro quando o design já entra no processo, ele não entra no fim do processo como na etapa anterior, mas o design já começa a ser inserido durante o desenvolvimento, seja de um produto ou seja de um serviço.
E o quarto estágio que o Danish Design Center definiu seria já o design como estratégia, a empresa já utilizar o design como um fator estratégico onde você não tem como não pensar o design já fazendo parte daquela empresa.
Mais recentemente se somaram mais dois degraus, um é o design para mudança sistêmica, quer dizer, o design como uma mudança estrutural que vai permitir resolver problemas mais complexos.
E o último estágio é o design como cultura, aí ele já faz parte, realmente está totalmente integrado, o que permite inovar constantemente, o que permite também liderar, o que permite saber fazer as perguntas adequadas, essa escada do design eu acho que ela é bem didática para a empresa saber onde ela vai se encaixar.
Um amigo nosso, o Robert Peterson, designer canadense que foi presidente do ICOGRADA, ele usava uma expressão que eu gosto bastante que era que o design cria cultura, a cultura cria valores e os valores definem o futuro, eu acho que essa também é um processo que é bem interessante da gente acompanhar.
É interessantíssima essa definição do Danish Design Center, a minha pergunta, complementar isso, esses dois degraus adicionados também tem origem no Danish Design Center ou são outros estudiosos que agregaram?
Eu vi isso num instituto australiano de pesquisa, agora não lembro exatamente, mas na verdade eles agregaram depois esse novo momento, até porque esse Danish Design Center já não é tão recente, o design vem mudando tanto também ao longo do tempo.
Aí me retoma um exemplo que serve para qualquer empresário como benchmark, mas sobretudo para aqueles pequenos empresários ou microempresários, que é o case do Valdir, o pipoqueiro, e eu recomendo que todos acessem o YouTube e assistam o vídeo do Valdir, o pipoqueiro, que não é novo, certamente tem mais de 10 anos, mas é um exemplo de um pipoqueiro que inovou através do design de serviços, do design sistêmico, ele acabou aplicando, sem provavelmente conhecer a matéria que a gente está tratando aqui, mas aplicando ela na prática, e eu acho que é um belo exemplo que mostra que o design pode ser aplicado profundamente a um pipoqueiro, a um micro e pequeno empresário, ou um empreendedor individual.
Pois é.
Até para quebrar um pouco essa coisa, que só as grandes empresas têm possibilidade de você...
A gente tem exemplos vários, onde às vezes uma pequena mudança, sem gastar milhões, aliás a gente acabou de ter hoje o caso da IA chinesa, da DeepSeek, que investiram muito menos, com chips com menos potência, e quebrada um trilhão de perdas na Nasdaq, então assim, essa coisa do, ah não, você tem muito dinheiro para investir e tal, é muito relativo na verdade.
Sim.
Por muitos, o design é ainda interpretado apenas como uma expressão estética, e em sua experiência, quais são os principais erros que empresas cometem ao tratar o design como um elemento isolado, e como isso pode ser corrigido para maximizar os resultados?
É, eu acho que é um pouco isso que a gente estava falando, né, na pergunta anterior, né.
Quer dizer, você, eu acho que você chamar o design na etapa final do processo, ele, você perde a oportunidade de ser mais estratégico, quer dizer, na verdade, você conseguir introduzir os designers e o design durante um processo, entender ele como ele é fundamental desde o começo, é fundamental, porque só aí você vai conseguir se diferenciar, né.
Eu gosto até da origem etimológica do design, da palavra design, que ela vem do latim de mais signare, né, que significa dar significado.
Então assim, o design tem esse papel, né, quando você tá interferindo num produto ou num serviço e tal, você no fim tá atribuindo um novo significado e aí criando mais valor pra sua marca, pra seu produto ou pro seu serviço, né.
O design, ele exige cada vez mais colaboração entre disciplinas, né, como marketing, tecnologia, ciência de dados, hoje AI, como os designers podem se posicionar como catalisadores estratégicos nesses ambientes multidisciplinares?
Eu acho que até pela própria formação do designer, né, ela é uma formação plural.
Eu acho, se a gente, sei lá, pegar como exemplo um design de produto, ao mesmo tempo que você tem que saber de resistência de materiais ou de ergonomia, que são coisas mais técnicas, ao mesmo tempo você tem que entender a sociologia daquele produto ou as tendências de consumo que aquele produto no qual ele está inserido, que tendências de consumo estão existindo.
Então, a própria formação do designer já exige esse olhar multidisciplinar, né?
Então, eu acho que a gente tem já na origem essa capacidade de saber fazer as perguntas certas e conseguir coordenar esse universo, como você bem falou, cada vez mais multidisciplinar de profissionais, né?
Quer dizer, cada vez mais, ao desenvolver o design, você tem que juntar profissionais de várias disciplinas e de várias especialidades.
Então, eu acho que pela nossa própria formação, a gente tem essa capacidade de ter a mente razoavelmente aberta para conseguir absorver as diferentes informações, as diferentes disciplinas, né?
Certamente.
Nos últimos 45 anos de jornada, você acompanhou a transformação do design de um ambiente analógico para o digital, que é uma transformação que hoje a geração atual, que está entrando no mercado de trabalho, nunca vivenciou, já entrou a partir do nascimento dentro do ambiente digital totalmente integrado à vida deles.
Quais foram os principais impactos dessa mudança nas metodologias e também nos resultados esperados, sobretudo na tua experiência com a OZ, a Estratégia+Design, que foi quando houve esta transição, né?
Sim, exato.
Inclusive acho que a gente, na OSS, foi um dos primeiros escritórios de design a entender a importância do computador.
Na época você tinha que importar o computador, era uma loucura total.
Eu lembro da gente ter um primeiro Macintosh e dividir entre os três sócios os horários, porque era uma fortuna.
Então a gente fazia um schedule da semana e cada um tinha um horário tal.
Mas eu me considero, na verdade, um privilegiado de ter justamente passado essa transição, de ter começado minha atividade profissional num mundo analógico e ter, ao mesmo tempo, tido a capacidade de me adequar a um mundo digital.
Então a gente não ficou só lá pedindo para alguém que mexe computador, faz isso, faz aquilo.
A gente aprendeu também a mexer no computador.
Eu acho que isso é um privilégio porque a gente, enquanto designer, tem que deixar claro que o design é um processo industrial, se estou falando de design gráfico, design de produto.
Então você sempre vai ser, você não é um artista, você vai ter que gerar soluções que vão ter que ser reproduzidas industrialmente.
E muitas vezes quem começou o seu universo visual, sua carreira na frente de um computador, muitas vezes esquece que aquilo que a gente está vendo na tela não necessariamente funciona.
Então, acho que essa possibilidade de ter começado de uma maneira fora do computador e ter migrado para o mundo digital realmente foi um privilégio.
É só lembrar que quando a gente trabalhava antes, para você fazer uma arte final, você tinha que mandar um texto digitado para uma empresa, ela devolvia depois de um ou dois dias, se você tivesse sorte, uma cópia daquele texto na fonte que você tinha pedido.
Então, você imagina o impacto de tempo que o mundo digital trouxe para o desenvolvimento dos trabalhos, para o bem e para o mal, porque tem muito cliente que acha que é só apertar o botão e o projeto sai em cinco minutos, mas, de qualquer maneira, isso teve um impacto gigante na questão da produtividade e também na questão da experimentação.
O fato de você ter uma máquina que te permite ampliar muito as possibilidades, até as coisas mais básicas, a mudança de cores.
Antigamente, você tinha que fazer com lápis de cor e depois chegar aqui no computador você pode optar por 500 cores ou fotos tipográficas.
E, além disso, além da questão da produção mesmo, tem toda a questão do acesso a um mundo de informações.
Então, assim, você vai ter muito mais possibilidades, quando você está fazendo um trabalho de branding, de acessar benchmarks de outros lugares, dos mais distintos países, dados, tendências de consumo.
Quer dizer, você abre uma janela investigativa que é gigantesca e que te permite chegar em soluções muito mais assertivas do que quando você não tinha esse universo gigantesco de dados à disposição.
É, hoje a gente consegue fazer um desk research global para desenvolver um projeto.
Muitas vezes, quando a gente está desenvolvendo um trabalho de branding, a gente até pesquisa outras categorias nas quais aquela marca está inserida, porque isso pode dar insumos que se você ficar só no universo da sua categoria, talvez você não consiga ter esse insight interessante.
Às vezes, ela te dá uma tendência de consumo que dá para você transpor de uma categoria para a categoria que você está trabalhando na verdade.
Sim.
Das transições que revolucionaram, vamos dizer, a dinâmica da sociedade, dos homens em sociedade, desde a era agrícola, passando pela revolução industrial, a da informação, eu penso que a gente hoje vive o limiar da era da atenção.
E então, como a criação de experiências marcantes podem transformar a percepção de uma marca e gerar a fidelidade, que hoje é um componente complexo, dentro das ofertas, das múltiplas ofertas do mercado, em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais fragmentando a sua atenção, os cliques são quase que viciantes, né?
O clique de entrar em um determinado conteúdo e de sair deste conteúdo.
Substituiu aí o controle remoto das televisões.
Então, como é que tu enxerga, hoje, o papel do designer para construir esta relação onde a atenção, talvez, seja o campo de batalha?
Com certeza.
Aliás, um dos vídeos que eu vou indicar é As Leis da Simplicidade, do John Maeda, que é justamente o que ele fala, que nesse mundo tão complexo é muito difícil.
Ele usa uma frase que eu gosto muito, que é a simplicidade é você subtrair o óbvio e acrescentar o significativo, porque é isso, a gente está inundado em tanta, tanta, tanta informação que é difícil você realmente se focar.
Eu acho que o papel das marcas, hoje em dia, é você estabelecer uma relação mais humana.
Inclusive o Philip Kotler está lançando agora aqui no Brasil um livro que chama Age to Age, que é Human to Human, que é justamente essa ideia de você, das marcas, se conectarem cada vez mais.
Ele usa um exemplo, inclusive, interessante, que é você, antigamente você ia na lojinha da esquina, você conhecia o vendedor pelo nome, ele também te conhecia pelo nome, então existia uma relação humanizada entre você, cliente, e o vendedor.
E hoje em dia é tudo absolutamente antiséptico, você passa no check out e navega sozinho por um supermercado.
Então essa relação de você criar uma relação emocional com as marcas é fundamental.
Então você tem que criar experiências únicas, você tem que criar uma relação com as marcas.
Então se trata muito menos de você desenvolver um produto e muito mais de estabelecer, de criar uma relação com o cliente.
E muito mais do que fazer propaganda, não adianta, hoje em dia é muito mais o que o Google fala de você do que você mesmo fala de você mesmo.
Então essa ideia de você criar uma reputação ao invés de tentar moldar uma imagem é super importante.
Então essa coisa de você estabelecer uma relação individual, uma relação mais humanizada, as pessoas querem justamente sair dessa massa que você falou, gigantesca.
Então claro que ainda a propaganda de massa serve para algum tipo de produto, para algum tipo de marca, para algum tipo de categoria, mas hoje em dia quanto mais você se focar no indivíduo, melhor para você se diferenciar.
Eu lembro de um case muito interessante da Absolut, muito nessa linha, eles desenvolveram um processo industrial super complexo, onde eles trabalhavam com quatro ou cinco elementos gráficos, e eles faziam industrialmente a mistura desses elementos gráficos, e eles conseguiram gerar 4 mil garrafas de Absolut completamente diferentes, cada uma numerada.
Então você, como consumidor de Absolut, você tinha certeza que aquela garrafa tinha sido feita, entre aspas, para você.
Quer dizer, só você tinha aquela embalagem de Absolut.
Então isso é uma amostra muito palpável dessa ideia de você tentar, quanto mais você fazer coisas individualizadas, coisas que atendam à necessidade específica de cada consumidor.
É um bom exemplo também dessa relação de empatia que a marca busca o seu usuário, o consumidor, é a Starbucks, que solicita o nome ou o apelido da pessoa quando o pedido é feito, para que quando for entregue aquele café ou aquele alimento, se chame pelo nome da pessoa.
Ao invés de uma senha ou um número num display, que é mais comum.
É, e você vê, às vezes são coisas muito simples, né?
Você não precisa de uma revolução, no caso absoluto, realmente, você teve uma pesquisa industrial complexa, de você adequar o sistema de produção para essa coisa, mas no caso do Starbucks é só uma ideia que, no fim, é genial e muito simples, ao invés de botar um número frio, o cara sente que aquela bebida foi feita para o Maurício.
Então, assim, isso realmente, às vezes, ideias simples já fazem um grande efeito, né?
É, e eu vejo também como uma via de mão dupla, porque o próprio atendente, o vendedor ou atendente do Starbucks, acaba tendo uma interação de pessoa a pessoa quando trata pelo nome.
Não é simplesmente um checkout de uma compra e a entrega de um produto, né?
Isso tem uma relação que serve para qualificar a equipe e tornar a equipe mais integrada com aquela pessoa.
Isso também foi uma das razões, vamos dizer assim, de eu ter elaborado o método Árvore da Marca para fazer o processo de enraizamento do branding, sobretudo para pessoas que nunca tiveram acesso ao conteúdo de branding, que não conhecem a matéria, que não sabem o papel do branding e têm dificuldade de entender quando se entra num tema um pouco mais técnico.
E com o método...
Continua assim, né Maurício?
Exatamente.
E como eu fiz isso fora, com pessoas que não tinham inclusive formação, muitas vezes até formação superior, vendedores de lojas, né?
Duas mil vendedoras de lojas, de que maneira essas pessoas podem entender o que é um processo de branding?
Foi aí que eu criei a analogia da árvore entre a raiz e todo o entorno que ela gera, inclusive sombra, não somente o tronco, a casca, enfim, os ramos e tudo mais.
Então, foi uma forma não de...
Não é para designers em si, mas para o designer utilizar como uma ferramenta, então eu apontou o Quito para a implementação do conceito, para as pessoas que vão implementar, rede de franquias, enfim.
Porque o processo não é simples, né?
Então, você conseguir passar isso de uma maneira mais didática tem um supervalor, né?
E como é importante as pessoas do, vamos chamar assim, chão de fábrica, né?
Ou barriga no balcão, no varejo, estarem integradas com esse processo?
Que não é uma definição do CEO com o designer ou com chief designer officer, enfim, ou com área de marketing.
Não é uma atividade, mas sim um processo, não é uma ação isolada, mas sim a cultura.
E ele só entra na cultura quando as pessoas colocam ela de forma introspectiva dentro do seu dia a dia, da sua realidade de trabalho.
Claro, é fundamental.
Outro dia mesmo eu li, como é que você quer que um funcionário que recebe mal, como ele pode criar uma experiência boa para o seu cliente, para o seu usuário?
Então, essa coisa também de você estabelecer uma boa relação, essa coisa que você falou, se o chão de fábrica não compra essa ideia e não é parceiro também, não adianta você ter um manual, um brand book maravilhoso, que não vai resolver sua vida com certeza, né?
Eu lembro de uma marca que vocês, na época da Oz, atendiam, que era a Penalty, não é?
Na época em que eu estava envolvido na indústria de calçados, de uma marca de tênis, que era um tênis de streetwear, vamos chamar assim, que era o Regazzoni, não era competidor da Penalty, a Penalty já tinha um trabalho de performance.
É outro segmento, mas eu tinha já na minha cabeça a relevância do nome Penalty e de que todos os funcionários estariam batendo um pênalti de um jogador, que estivesse com aquela chuteira, com aquele tênis, enfim.
Então, eu já tinha isso no meu imaginário, vamos chamar assim.
Inclusive, na época, quando a gente desenvolveu a marca, o branding para eles e tal, a gente acabou fazendo até um workshop junto aos designers internos de produto para passar o que era, quer dizer, a gente definiu um branding, essa coisa da ginga, que é uma marca brasileira, que compete com o Nike, com o Inbok, com todas as marcas internacionais, essa coisa da brasilidade e tal.
A gente acabou, inclusive, fazendo um workshop para os próprios designers da empresa, designers de produto da empresa, para eles entenderem também como é que esse posicionamento poderia também ser aplicado nos próprios calçados da Penalty.
Então, essa coisa de expandir os tentáculos do branding para as várias áreas, seja para a pessoa que está em frente ao cliente, ao usuário final, seja para quem está desenvolvendo os produtos da empresa, tentar sempre criar um padrão e uma uniformidade em relação ao branding.
Além de ter sido um dos fundadores da ABDESIGN, a Associação Brasileira de Empresas de Design, e membro do Conselho, você foi o diretor-geral do Brasil Design Award 2024, recentemente apresentado em dezembro passado.
Os projetos premiados do BDA 2024, eles destacam tendências relevantes e soluções inovadoras no design.
São os mais recentes trabalhos e projetos de design premiados por uma curadoria rigorosa.
Como as empresas, especialmente aquelas que não possuem ainda uma cultura de design bem estruturada, podem se inspirar nesses casos para adotar práticas e estratégias criativas, que gerem impacto nos negócios, e como nós podemos acessar os projetos premiados, Giovanni?
Então, eu fiquei muito feliz de ser convidado para ser o diretor-geral do BDA, porque fui um dos fundadores da ABDESIGN, fui diretor durante 10 anos, e eu já não estava tão diretamente no dia-a-dia.
Então, fiquei feliz de voltar a essa questão mais executiva.
E o BDA, com certeza, hoje em dia é o mais representativo prêmio do design brasileiro.
Teve mais de 1.200 projetos inscritos, e o que acho muito rico no BDA é a abrangência, você tem um panorama muito, muito relevante do design brasileiro nas distintas categorias.
Então, acho que você consegue ver lá, desde um projeto premiado de branding para uma ONG pequena, até um projeto de embalagem para uma grande multinacional, então, para o produto de uma grande multinacional.
Então, acho que o BDA tem essa grande vantagem de mostrar um pouco até o que a gente estava falando, que o design acessível não interessa muito na área onde a sua empresa ou a sua instituição está, e também você tem trabalhos no Brasil todo, desde o Rio-São Paulo, que no começo estava muito mais focado lá, mas até no interior, do Norte, do Nordeste, do Sul.
Então, acho que esse panorama gigante que o BDA traz de projetos, e muitos de altíssima qualidade, eu acho que eles são uma super referência para as empresas que não têm design ou que têm design no estágio inicial, verem as possibilidades super amplas que existem para você trabalhar com design.
Então, um pouco até o que a gente estava falando, não precisa ser uma multinacional para contratar design.
E o impacto disso é gigante.
Eu lembro, a gente uma vez, até números, a gente mudou uma vez uma embalagem de uma marca, nem era uma marca tão impactante assim, e exatamente o mesmo produto naquela caixa, só mudando o visual dela, ela cresceu 40% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
E no caso ali, eu estava até falando só da parte gráfica, mas é que o design tem essa capacidade de transformar o produto.
Quando você tem o mesmo, ou um serviço, por exemplo, a gente trabalhou muito, por exemplo, com escritórios de advocacia, é um trabalho completamente intangível, serviço é uma coisa intangível.
Então, quando você consegue materializar isso numa identidade visual do escritório, você começa a criar uma diferenciação.
Então, eu acho que serviço tem isso.
Hospitais é um outro caso que, para mim, é bem...
Advogados têm muito prurido de mexer com marca, assim como essa parte de saúde também.
E a gente talvez tenha sido um dos escritórios que mais mexeu na área de saúde, seja Sírio-Libanês, seja Oswaldo Cruz, vários laboratórios da DASA e tal.
Tinha esse pudor, há uns anos atrás, eu não vou mexer, a saúde não pode fazer propaganda, criar marca.
E eles entenderam que o paciente é um cliente como qualquer outro.
Ou ele vai no Einstein ou ele vai no Sírio-Libanês.
Então eu preciso criar marca igual a qualquer outra categoria.
Então, às vezes, até categorias que a gente imagina que não precisam ter design por trás, que não precisam se posicionar, que não precisam fortalecer a marca, acabam aprendendo ao longo do tempo que construção de marca é fundamental para você ter sucesso.
Este exemplo da saúde hospitalar é muito interessante.
Existe um segmento de negócio que é o turismo hospitalar, que é a vinda de estrangeiros para um determinado país que tem uma oferta de alta qualidade médica, mas também com serviços, com serviços da própria hotelaria, do concierge.
A Tailândia, Bangkok, por exemplo, é um hub importantíssimo, faturamento de bilhões de dólares, através do turismo hospitalar, tanto do Oriente Médio, da Índia e do South East Asia.
Claro, aproveitando esse engancho seu, a gente fez muita sinalização para esses hospitais topo de linha, e a gente, na sinalização, tinha que ter a versão em inglês também.
Então você vê como isso realmente corrobora isso que você está falando, quer dizer, além de você ter toda a sinalização normal em português e tal, embaixo você tinha traduzido em inglês justamente por isso, porque vem muita gente de fora para utilizar esses serviços top de hospitais do Brasil.
Interessante isso.
Certamente.
Muito bem, nós entramos agora, Giovanni, no Pinga-Fogo.
Vamos lá.
Perguntas que exigem respostas mais rápidas e que eu faço a todos os convidados.
A primeira delas, quais são as virtudes de um empreendedor de sucesso?
Bom, eu acho que a primeira dela é a resiliência, porque você ter uma ideia, nessa minha trajetória, eu passei por sete mudanças de moedas.
Sete mudanças de moedas e um plano-colo.
Não sei se quem é mais jovem sabe o significado de um plano-colo, mas se você não tem capacidade de se adaptar a essas situações as mais inacreditáveis, tipo o plano-colo, você realmente não consegue ir além.
Acho que uma outra coisa que para mim é fundamental é a empatia.
Acho que a relação com as pessoas é fundamental, a relação com os seus colaboradores, a relação com os parceiros, as relações com os clientes.
Tenho muitos clientes meus que viraram amigos.
Então, acho que você ter uma relação de empatia com as pessoas que estão ao seu redor é fundamental, acho isso super importante.
Uma terceira coisa, acho que é a coisa de pôr a mão na massa.
Muitos empreendedores acham que é maravilha, vou fazer o meu tempo, vou trabalhar na hora que precisar.
E aí eu lembro, no começo a gente atendia o telefone, fazia a compra, enfim, tem horas que você tem que pôr a mão na massa mesmo e não achar que você só vai liderar e mandar fazer isso e fazer aquilo.
E para isso acho que é fundamental você gostar do que você faz.
Eu acho que para ser um empreendedor não dá para você ser mais ou menos.
Eu sempre falo, não dá para ser designer das 9h da manhã às 18h da tarde.
Você tem que ser designer o tempo inteiro, porque você está se abastecendo o tempo inteiro.
Se você vai num teatro, se você vai ver um filme, se você vê um show, aquilo acaba te abastecendo de informações.
Então, acho que isso de pôr a mão na massa é fundamental.
E, para mim, a última coisa é o humor.
Eu acho que o humor é um elemento fundamental.
Acho que na Oz a gente sempre foi muito bem-humorado.
Acho que, seja eu, seja meus sócios, o clima em geral na Oz é sempre muito bem-humorado.
Tanto que a gente teve muita gente que saía e voltava.
Tinha um grupo no Facebook de ex-Oz.
Então, ali, a gente conseguiu criar uma relação.
Um pouco essa coisa que eu estava falando da empatia com as pessoas que trabalham e do humor.
Eu acho que o humor, não só profissionalmente, mas na vida, para mim, é superimportante.
Eu acho que o ideal é você ter uma fusão desses dois personagens.
Porque, assim, você ser um sonhador, mas não conseguir implementar o que você sonhou, não tem muito valor.
Uma vez eu li uma estatística que falava que 45 pessoas têm a mesma nova ideia, mas só três conseguem pôr de pé.
Então, você ter só uma boa ideia ou um bom sonho e não conseguir materializar isso, não tem muito valor.
Assim como você ser só um fazedor também, quer dizer, você ficar lá pedalando ou fazendo coisa, mas sem saber direito para onde você vai, também não leva a nada.
Você tem que saber, estou fazendo, estou investindo, estou trabalhando para chegar em determinado ponto, para chegar em determinado sonho.
Então, acho que você tem uma fusão dessas duas coisas, você fazer as coisas, você atuar, você agir, é fundamental, desde que você tenha um sonho para ser atingido.
E a última, o que é design?
Essa é uma pergunta de um milhão de dólares.
O design mudou muito, ele vem mudando muito, muito, muito.
É curioso que, quando a gente fundou a DG, fui um dos fundadores, uma das grandes discussões é como é que a DG viria a se chamar.
Seria a Associação dos Artistas Gráficos, a Associação dos Programadores Visuais, e, naquele momento, a gente optou acertadamente por design, Associação dos Designers Gráficos.
Porque, naquele momento, pouca gente sabia efetivamente o que era design, estava restrito a um universo.
Mas, hoje em dia, o design está espalhado por aí.
E acho que o design, se antigamente você tinha uma divisão mais direta entre design de produto, design gráfico, isso mudou completamente.
Hoje em dia, você tem design digital, design de serviço, design de impacto social.
Então, o espectro de atividades onde os designers estão inseridos aumentou muitíssimo.
Então, acho que o design tem se ampliado cada vez mais e acho que o que une todas essas atividades, na verdade, é o interesse pelas pessoas e é você tentar achar soluções mais adequadas para atender às necessidades daquelas pessoas.
Pode ser desde um cartaz do maravilhoso Milton Glaser dos anos 70, ele está fazendo um cartaz, mas ele tem que saber, aquele cartaz tem que comunicar de que forma para aquele público específico.
Então, estou comunicando alguma coisa para um público específico?
Ou seja, um projeto amplo de design de serviço, onde vou ter que fazer um estudo profundo para entender a dinâmica daquele serviço, como as pessoas se comportam, quais são os passos que as pessoas fazem para chegar em determinado no fim desse serviço.
Então, seja num posto, seja num projeto de design de serviço, o interesse final, o objetivo final, é você atender bem as pessoas, você resolver problemas para as pessoas que vão usar aquele produto, ou aquele serviço, ou aquela marca.
Perfeito.
Então, nós fazemos sempre questão de pedir a indicação de livros.
Giovanni, quais livros impactaram a tua trajetória e que podem ajudar a nossa audiência a alcançar a sua melhor versão?
Legal.
Eu sempre gosto dessa pergunta aí que você faz para os convidados.
Eu vou indicar livros da área, mas eu não gosto só de ficar lendo livros da área, porque eu acho que, um pouco como eu falei, você tem que se abastecer também de outras coisas.
Outro dia eu li uma estatística do Instituto do Livro que falava que 53% dos brasileiros não leram nenhum livro em 2024.
E dos que leram, só 23% chegaram até o fim.
Ou seja, 71% dos brasileiros não leram um livro até o fim.
E é assustador esse número aí, porque realmente só cresce enquanto nação com educação e com conhecimento.
Mas, de qualquer maneira, eu gosto justamente de não focar só na área do design, da estratégia.
Então, vou indicar quatro livros.
Um, o que eu estava falando, eram As Leis da Simplicidade, do John Maeda, que justamente ele explica essa história de como a simplicidade é fundamental para você aparecer e ter sucesso no mundo cada vez entulhado de informações.
O outro, que se chama A Política do Design, agora esqueci que eu tinha trazido os livros, acabei deixando lá em cima.
Depois eu passo para você o nome do autor.
A Política do Design.
Eu acho superinteressante esse livro porque ele faz uma análise de como nossas ações enquanto designers têm sempre uma ação política, na verdade.
Se eu escolho uma imagem X ou uma imagem Y, isso vai passar uma mensagem que não deixa de ser uma mensagem política.
Até se eu escolho uma tipografia de um tipo ou uma tipografia de outro, estou passando uma informação e uma informação voltada a determinado tipo de pública e passando uma mensagem específica.
Então esse é um livrinho bem interessante.
Opa, me trouxeram aqui.
Muito obrigado, os livros aqui.
Então esse aqui é o As Leis da Simplicidade.
É um livro fininho esse, do Maeda.
É um livro fácil de ler.
Muito fininho.
Ele falou que queria fazer um livro simples.
Eu queria que o livro também fosse simples.
Então aqui, As Leis da Simplicidade.
Esse aqui é o Políticas do Design.
Opa.
O Políticas do Design, deixa eu ver aqui.
É o Ruben Pater.
Ruben Pater.
O outro livro que eu escolhi chama O Livro das Perguntas.
É um livro que é de quatro gêmeos, porque são perguntas do Pablo Neruda, traduzidas pelo Ferreira Goulart, ilustradas por esse brilhante Luís Hidro Ferreira.
É um designer, ilustrador, escultor espanhol, maravilhoso, e ele fez as ilustrações desse livro.
E eu acho que a gente, enquanto designer, escolhe esse livro, porque a gente tem que saber muito perguntar.
O Buckminster Fuller falava que uma pergunta bem formulada vai levar muito próximo da solução daquele problema.
Então, acho que a gente, enquanto designers, tem que saber fazer muito bem as perguntas.
Acho que a gente tem essa capacidade de ser...
Enquanto a gente é externo às empresas, a gente faz um pouco o papel até do psicoterapeuta.
A gente consegue ter um afastamento em relação àquele cliente, aquela empresa, que nos permite, de fora, entender quais perguntas são fundamentais para você chegar no resultado que a gente quer atingir.
E o último que eu escolhi é o Grande Sertão Veredas, do Guimarães Rosa.
Acho que ele é um exemplo do que é o Brasil.
E eu fico muito incomodado quando...
Acho que o grosso da classe média alta e da classe alta brasileira não conhece o Brasil.
Prefere ir para os Estados Unidos, prefere ir para a Europa, mas não conhece o verdadeiro Brasil.
Acho que o Grande Sertão Veredas tem essa capacidade de expor o Brasil nas suas entranhas, o Brasil dos fundões, o Brasil verdadeiro.
Acho maravilhoso.
E quando a gente fala em design como inovação, é um livro, se não me engano, de 1937, que inovou completamente na linguagem.
Acho também que ele traz uma dose de inovação fantástica.
Então, acho que para mim é um símbolo de brasilidade.
Acho que não dá para ser designer no Brasil sem conhecer o Brasil a fundo.
Acho que isso é super importante.
Perfeito, excelente.
Só reforçando que o link para os livros indicados pelo Giovanni e dos demais convidados vocês encontram no site podbrand.design no menu livros.
Nós temos aqui no Podbrand uma tradição onde o nosso convidado anterior deixa uma pergunta para o próximo convidado.
A Nady Dequech, que é conselheira e legal advisor especializada em empresas familiares, perguntou sem saber que você seria o próximo convidado.
Qual é um legado que você gostaria de deixar?
Essa é uma pergunta e tanto, né?
Mas eu gostei.
Eu pensei bastante, eu acho assim, um pouco o que eu tinha falado da questão da empatia.
Eu acho que eu quero servir de exemplo que, na verdade, você não faz nada sozinho.
Não dá para você ter sucesso sozinho.
Qualquer atividade, qualquer trajetória, ela depende das outras pessoas.
Então, o que eu sempre busquei na minha vida, seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista profissional, seja pessoal, é criar uma rede de relacionamentos rica, uma rede verdadeira, uma rede empática, uma rede, se possível, bem-humorada.
E com afeto.
Eu sempre falo para os meus filhos que network é fundamental.
Mas o network, não só esse network superficial, de você ir a eventos para aparecer e tal, mas o network verdadeiro, de relacionamento entre as pessoas.
Eu acho, então, que o meu legado talvez seja esse, de tentar mostrar para as pessoas que o relacionamento com as pessoas é a coisa mais rica que alguém pode ter.
Eu acho que isso, para mim, é muito importante.
E, por último, Giovanni, qual pergunta você gostaria de deixar para o nosso próximo convidado?
Então, eu pensei, eu lido com marcas, então a pergunta que eu pensei seria assim, a gente é uma marca.
O Maurício Medeiros é uma marca, o Giovanni Vanucchi é uma marca, o mundo não deixa de ser uma marca.
Então, minha pergunta para o próximo convidado seria quais atributos, quais valores você teria, a sua marca pessoal teria para se apresentar para o mundo, para se destacar para o mundo e que seria um diferencial seu, uma característica muito própria sua que você está apresentando para o mundo.
Acho que essa é uma pergunta que eu gostaria de ter respondido da pessoa.
Brilhante pergunta, requer uma introspecção grande para chegar a esta resposta.
Será dado o nosso próximo convidado.
Muito obrigado.
Ótimo, vou ficar curioso para ver a resposta.
Giovanni, chegamos ao final.
Eu quero te agradecer por compartilhar os seus insights acumulados em quatro décadas e pouco de experiência, desenvolvendo e promovendo o design como uma disciplina e não como uma atividade.
Foi uma alegria imensa de ter hoje no Podbrand.
Te agradeço de coração.
Super obrigado, Maurício.
Gostei muito de estar presente e me sinto honrado de fazer parte desse universo do Podbrand em geral.
Um grande abraço.
Um grande abraço e nos vemos em breve.
Um abraço.
Tchau.
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